Massagem e estimulação

Desde o nascer devemos tocar o bebê, favorecer o contato físico, a observação, o fortalecimento do vínculo entre os pais e o bebê, através do toque.
estímulos  sensório-motores, relaxamento tônico, vivencias extrospectivas, proprioceptivas e bem estar físico.
Segundo Austregésilo (1988) massagem é o contato, a linguagem do tato, podemos defini-la como um conjunto de toques exercidos  sobre o corpo com fins terapêuticos, desportivos, estéticos, emocionais, lúdicos ou sexuais.
Nas crianças, no bebê abre um canal de comunicação, um espaço inter relacional importante, a partir do diálogo  corporal, proporcionando uma experiência rica em estímulos sensório motores, principalmente tactilocinestésico, assim como afeto, segurança e aprendizagem, a mensagem é uma linguagem universal que o bebê compreende bem.

Stanley Keleman foi um escritor e terapeuta americano, que criou a abordagem da psicoterapia corporal conhecida como "psicologia formativa". Ele foi um dos líderes do movimento de psicoterapia corporal a nível nacional e internacional.
Keleman dizia que o amor é uma verdade corporificada, é uma realidade somática.
Stanley Keleman, o criador da Psicologia Formativa, diz que “a imagem mítica é o corpo falando a si mesmo de si mesmo”.
Por esta abordagem corpo e mente não se dissociam.
O nosso corpo é a nossa história e a compreensão de nossas experiências se dá quando aprendemos com os mitos.
A origem da vida no imenso oceano, a evolução com o surgimento dos quadrúpedes e o aparecimento do homem bípede é o roteiro da nossa trajetória:
O útero é o oceano primordial
A fase quadrúpede são os anos iniciais da vida quando o ser humano engatinha como bebê
A evolução para o homem bípede é quando através do aprendizado o ser humano aprende a caminhar com suas pernas.

Keleman no livro “Mito e Corpo, uma conversa com Joseph Campbell” diz:“[…] a serpente da mitologia é a medula espinhal, e o bico da ponte do tronco cerebral, sua cabeça. O córtex é o lótus de mil pétalas, a coroa de espinhos”.

O ser humano nunca aceitou o desconhecido, sempre procurou dar um fundamento ao que não entendia.
As sagas de heróis, a cosmologia e até mesmo fundamentos de religiões são formas de lidar com o desconhecido e de associar o mundo externo ao seu mundo interno.
O mito seria essa conexão do interno ao externo e a fonte dos mitos está em nós e está, também, corporificada em nós.
Todas essas histórias estão associadas ao nosso self corporal. Nossos processos emocionais e somáticos estão sempre em coerência, a mente e o corpo não se dissociam, vida subjetiva e vida somática estão e são unificadas.
E com o caminhar prossegue a evolução com o ser humano podendo a partir daí fazer escolhas, direcionar seus caminhos e fazer uso do livre arbítrio.
Nosso corpo é um registro e um processo vivo de quem somos e do que vivemos que continuamente se organiza e corporifica tudo o que é experienciado.
Keleman propõe olhar a vida a partir do processo formativo, um processo de contínua criação de formas somáticas, uma anatomia do desenvolvimento que nunca pára e atravessa toda a vida. 
O processo formativo está afinado com o mesmo princípio que move o processo evolutivo das espécies, uma capacidade de criação de formas e estratégias para a ampliação da função vida.
A perspectiva formativa aponta que a vida é movida pelos processos de diferenciação, crescimento e complexificação em direção ao futuro, criando novas formas somáticas e comportamentos para dar conta dos desafios que a vida apresenta. Este processo depende da interação constante entre forças biológicas, ambiente e subjetividade.
As formas somáticas manifestam a passagem da motilidade à mobilidade, da pulsação ao movimento: “Sabe-se que o cérebro converte excitação em comportamento, direcionando-a ou evocando certos comportamentos passados”.
 Este processo que vai da excitação à ação contém etapas, e sob influência de Nina Bull (1962, 1968), Keleman vai elaborar a sua fórmula do comportamento em três tempos: “Em primeiro lugar, há um padrão organísmico geneticamente herdado, depois uma preparação para a ação e, finalmente, a ação propriamente dita” 

Os comportamentos se iniciam a partir de padrões inatos, um repertório evolutivo que manifesta os caminhos seguidos pela vida e que oferece direções de comportamentos futuros. 
Há padrões inatos de emoções como tristeza, raiva, alegria e medo, assim como há padrões inatos de ações como buscar, agarrar, trazer, empurrar, esperar, receber e dar.
 Estes padrões inatos oferecem as trilhas básicas a serem percorridas pelas marés pulsatórias na formação contínua do organismo.

A partir dos padrões inatos, organizam-se os padrões secundários, um momento intermediário de pré-organização do comportamento, que Keleman denomina como forma somática. 
 Este padrão secundário pode ser moldado e influenciado pelas ocorrências do desenvolvimento, como as experiências vinculares e a educação, assim como também pode ser influenciado volitivamente.

A raiva, por exemplo, pode ser expresso sob a forma explosiva de um grito, com uma voz moderadamente dura ou apenas com um olhar de desaprovação. São diferentes graus da forma somática modulando o padrão da emoção.

Há um intervalo entre a afetação de um encontro e a consequente ação no mundo. 
Neste intervalo se organizam as formas somáticas, preparando comportamentos e atitudes com suas diversas manifestações cognitivas e afetivas. 
Neste processo podemos ir além do pré-programado e entrar num campo potencial, mais indeterminado, que permite a modulação e a criação de“respostas do self antes inexistentes”

A interação mãe e filho tem início na gestação, na vida intra uterina e prossegue após o nascimento, período no qual formam  uma maneira de as sensibilidades (tato, olfato, paladar, audição) formam uma maneira de assegurar a continuidade desta relação.
A mitologia somática de Stanley Keleman diz que a fonte dos mitos está em nós e corporificada em nós. O corpo é o próprio universo e nele estão os deuses e as forças da natureza.

A mitologia somática de stanley keleman
Mitologia somática de Kelemann


Edward John Mostyn Bowlby (Londres, 26 de fevereiro de 1907 — Ilha de Skye, 2 de setembro de 1990) foi um psicólogo, psiquiatra e psicanalista britânico, notável por seu interesse no desenvolvimento infantil e por seu trabalho pioneiro na teoria do apego.
Para Bowlby  é essencial para ter boa saúde mental que o bebê e a criança experimente um relacionamento íntimo e contínuo com sua mãe, no qual ambos se satisfaçam.
Uma criança precisa sentir-se amada e que é objeto de prazer e de orgulho para a sua mãe, assim como a mãe necessita sentir uma expansão de sua própria personalidade na personalidade do filho: ambos precisam identificar-se um com o outro.
Nesta relação mãe e filho, a mãe fala e estimula o bebê a balbuciar, move o rosto e estimula-o a explorá-lo visualmente permite que ele brinque com seu cabelo, fornecendo respostas de manipulação.
A teoria do apego de John Bowlby sugere que as crianças vêm ao mundo biologicamente pré-programadas para formar vínculos com os demais, já que isso as ajudará a sobreviver.
Bowlby foi influenciado pela teoria etológica em geral, mas especialmente pelo estudo da importância de Konrad Lorenz. 
Nos anos 50, em um estudo feito com patos e gansos, Lorenz demonstrou que o apego era inato e, portanto, tem um valor de sobrevivência.Portanto, Bowlby acreditava que os comportamentos de apego são instintivos e são ativados por qualquer condição que pareça ameaçar a realização de aproximação, como a separação, a insegurança e o medo.

A teoria do apego de John Bowlby defende que as crianças são programadas biologicamente para formar vínculos com os demais. Ele também defendeu que o medo de estranhos representa um mecanismo de sobrevivência importante, incorporado pela natureza.
 De acordo com ele, os bebês nascem com a tendência de demonstrar certos comportamentos inatos (chamados liberadores sociais) que ajudam a assegurar a proximidade e o contato com a mãe ou com uma figura de apego.
Estes comportamentos de apego inicialmente funcionam como padrões de ação fixos, e todos compartilham a mesma função. O bebê produz comportamentos inatos de “liberação social”, como chorar e sorrir, que estimulam o cuidado dos adultos. 
O fator determinante do apego não é a comida, mas sim o cuidado e a capacidade de resposta.
Se o apego é rompido ou interrompido durante o período crítico da idade, a criança sofrerá consequências dessa privação materna irreversíveis a longo prazo. Este risco continua até a idade dos cinco anos.
Bowlby utilizou o termo privação materna para se referir à separação ou perda da mãe, assim como à falta de desenvolvimento de uma figura de apego.
A suposição subjacente da hipótese de privação materna de Bowlby é que a interrupção contínua do vínculo primário poderia levar a dificuldades cognitivas, sociais e emocionais a longo prazo para o bebê.
As consequências da privação materna a longo prazo podem incluir delinquência, inteligência reduzida, aumento da agressão, depressão e psicopatia sem afeto.
A psicopatia sem afeto é a incapacidade de demonstrar afeto ou preocupação pelos demais. 
Estes indivíduos agem por impulso com pouca consideração pelas consequências de seus atos. Por exemplo, sem demonstrar culpa pelo comportamento antissocial. 
A separação a curto prazo de uma figura de apego leva à angústia.
A angústia passa por três etapas progressivas: protesto, desespero e desapego.
Protesto: A criança chora, grita e protesta com raiva quando a figura de apego a deixa. A criança vai tentar se prender à pessoa para que ela não vá.
Desespero: Os protestos da criança começam a diminuir e parecem ficar mais tranquilos, mesmo que ainda sejam irritantes. A criança nega a si mesma todas as tentativas de comodidade dos demais e, frequentemente, parece desinteressada por qualquer coisa.
Desapego: Se a separação continuar, a criança começará a interagir com outras pessoas novamente. Ela vai rejeitar seu cuidador quando este voltar e mostrará fortes sinais de raiva.
A relação de apego da criança com o seu cuidador principal leva ao desenvolvimento de um modelo de trabalho interno.

O modelo de trabalho interno é um marco cognitivo que compreende representações mentais para entender o mundo, o eu e os outros. A interação de uma pessoa com as demais é guiada pelas lembranças e expectativas de seu modelo interno, que influenciam e ajudam a avaliar seu contato com os demais.

Aos três anos de idade, o modelo interno parece se transformar em parte da personalidade da criança e, portanto, afeta sua compreensão do mundo e as interações futuras com os demais. 
De acordo com Bowlby, o cuidador principal age como um protótipo para as relações futuras através do modelo de trabalho interno.
Há três características principais do modelo de trabalho interno: um modelo dos outros como de confiança, um modelo do eu como valioso, e um modelo do eu como efetivo ao interagir com outros.
Esta representação mental é a que guia o comportamento social e emocional no futuro, à medida em que o modelo de trabalho interno da criança guia sua receptividade aos demais em geral.
A teoria do apego de John Bowlby abrange os campos das teorias psicológicas, evolutivas e etológica.
As mães devem se dedicar exclusivamente ao cuidado de seus filhos quando estes ainda são pequenos?
Uma das principais críticas que esta teoria do apego recebeu está relacionada com a implicação direta que ela tem. As mães deveriam se dedicar exclusivamente ao cuidado de seus filhos quando estes são pequenos?
Weisner e Gallimore (1977) explicam que as mães são as cuidadoras exclusivas em uma porcentagem muito pequena das sociedades humanas. De fato, frequentemente outras pessoas estão envolvidas no cuidado das crianças.
Neste sentido, Van Ijzendoorn e Tavecchio (1987) dizem que uma rede estável de adultos pode proporcionar uma atenção adequada, e que essa atenção pode, inclusive, ter vantagens sobre um sistema no qual a mãe deve satisfazer todas as necessidades de uma criança.
Por outro lado, Schaffer (1990) explica que existem evidências de que as crianças se desenvolvem melhor com uma mãe que é feliz em seu trabalho do que com uma mãe se sente frustrada por ficar em casa.
A consideração final é que a teoria do apego de John Bowlby não defende a exclusividade da mãe na criação. Ela fala que é essencial que exista uma figura primária que ofereça o cuidado e as atenções necessárias na primeira etapa da vida, favorecendo a criação de um vínculo que ajudará o bebê a se desenvolver de forma plena.

Ajuriaguerra - Julian de Ajuriaguerra foi um psiquiatra e professor francês de origem espanhola. E também um dos mais extraordinários representantes da psiquiatria eclética, erudita, humanista, tendo contribuído para a criação da psiquiatria de setor.
Reconceituou e delimitou os transtornos psicomotores que transitam nas esferas do neurológico e do psiquiátrico. 
Essa foi uma enorme contribuição, pois com isso possibilitou que a Psicomotricidade adquirisse sua especificidade e autonomia em relação às demais disciplinas, consolidando desta forma as bases da evolução psicomotora.tônico, tendo a psicomotricidade o sentido e a função de uma certa linguagem, pois é por meio do diálogo tônico que, progressivamente, a criança objetiva seu corpo e sua ação e o corpo do outro.
Ajuriaguerra  demonstra o desenvolvimento da criança, voltada para a relação do corpo com o meio. Defende que a evolução da criança ocorre pela conscientização dela em relação ao seu corpo e trata o corpo como uma unidade essencial para o desenvolvimento da esfera mental, afetiva e motora. 
A organização e construção da personalidade são efetivadas por meio das experiências corporais conquistadas na vivência da criança.
Quanto à concepção de corpo, indica que ele não seria apenas um instrumento utilizado para a construção e para a ação, além disso, é a forma como se comunica com o meio, com o social. 
 Ajuriaguerra afirma que a criança é seu corpo, como já dito, ela se desenvolve tendo a consciência sobre ele. É por meio de seu corpo que a criança expressa seus sentimentos, suas necessidades e suas emoções. Para Ajuriaguerra (1956, 1961, 1962, 1972, 1974, 1976, 1978, 1980, 1981 apud FONSECA, 2008, p.104):
[...] a evolução da criança é sinônimo de consciencialização e de conhecimento cada vez mais profundos do seu corpo, ou seja, do seu eu total. É com o corpo, diz-nos este autor, que a criança elabora todas as suas experiências vitais e organiza a sua personalidade única, total e evolutiva [...]. 
Ajuriaguerra diz que a relação entre mãe e filho é é viseral, na qual a criança é tocada, ajuda o desenvolvimento do tônus muscular e da coordenação motora que permite que o bebê  desenvolva a capacidade de gozar a experiência do funcionamento corporal do ser.
O pesquisador introduz um conceito muito importante, a expressão “Somatognosia” (gnosia, reconhecimento do soma, do corpo) “é entendida como a tomada de consciência do corpo na sua totalidade e respectivas partes, intimamente ligadas e inter-relacionadas com a evolução dos movimentos intencionais, isto é, a tomada de consciência do corpo como realidade vivida e convivida” (FONSECA, 2008, p.109).
Outro aspecto importante abordado por Ajuriaguerra seguindo os argumentos de conscientização do corpo é o da ilusão do membro fantasma no amputado, quer dizer com isso que mesmo que a pessoa venha e ter um membro amputado, a consciência da totalidade do corpo ainda perdura. 
Ele define o membro fantasma “como o resíduo cinestésico do membro (ou parte do corpo) anatomicamente ausente” (FONSECA, 2008, p.107).
Seguindo nas suas contribuições teóricas de conscientização do corpo, ele aborda a questão da apraxia. 
A praxia é a coordenação normal dos movimentos. Em contrapartida, a apraxia é a desordem de ordem neurológica que provoca a perda da habilidade em executar os movimentos, e nas palavras de Ajuriaguerra (1964 apud FONSECA, 2008, p.117) “a apraxia constitui a incapacidade de elaborar, controlar e de executar a ação propriamente dita”.
Ele afirma que o ato precisa tanto de um plano como de uma programação, isso quer dizer que “toda a ação intencional necessita de uma planificação motora prévia e antecipada (de certa forma, expressão sinônima de psicomotricidade) que a guia para uma execução programada” (FONSECA, 2008, p. 117).
 Com isso quer dizer que, a apraxia, representaria uma dificuldade em ordenar o plano mental de ação com a efetivação da ação motora.

Evolução da criança e sua organização psicomotora
Ajuriaguerra descreve três fases:
Organização psicomotora de base, que tem no seu cerne a questão da função postural: em que o recém–nascido carrega consigo elementos fisiológicos e sensórios que ele manifesta através dos reflexos, como sendo “memória da espécie”.
Organização da planificação motora (somatognosia), sendo a fase de incorporação das vivências e experiências e de motricidade já psiquicamente elaborada ajustada na dimensão de tempo e espaço: não mais na forma de intuição, mas de movimentos auto-regulados, coordenando informações interiores com dados exteriores de maneira concisa, nesse momento inicia-se, portanto movimentos com intencionalidade e de ordem social.
Automatização, da praxia, a automatização das práticas motoras, ou seja, a interiorização das aquisições motoras que se adaptam e geram competências que se tornam base do desenvolvimento psicomotor da criança. Concretiza-se em uma motricidade práxica, dotada de inteligência, precisa e eficaz, que possibilita uma expressão tanto corporal como motora mais ajustada e segura. 

Winnicott
 Donald Woods Winnicott (1896-1971) Médico e psicanalista inglês.
 Deixou uma herança conceitual fundamental para a psicanálise, embora nunca tenha fundado escola ou corrente.
A partir de 1923, orientou-se para a pediatria e para a psicanálise. Nesse ano, foi nomeado médico assistente no Paddington Green Children’s Hospital, lugar que ocuparia durante 40 anos, tratando de mais de 60 mil crianças e adolescentes. 
Após um divórcio complicado do primeiro casamento com uma ceramista, internada várias vezes em hospitais psiquiá­tricos, Winnicott se casou com Clare Britton, uma assistente social que se tornou psicanalista e professora brilhante. O casal não teve filhos.
Foi o fundador da psicanálise de crianças na Grã-Bretanha, antes da chegada a Londres de Melanie Klein. 
No centro do intenso conflito entre Anna Freud (que tinha uma concepção “pedagógica” da psicanálise de crianças) e Melanie Klein (cuja prática clínica era centrada nos jogos e na observação das psicoses primitivas, segundo ela presentes em todas as crianças), Winnicott foi afirmando sua independência.
 Embora admirasse Melanie Klein, com quem se submeteu a uma supervisão, entre 1935 e 1941, recusou-se a cumprir suas exigências. Assim, quando ela quis obrigá-lo a analisar seu filho Erich, para ela mesma supervisionar o tratamento, ele aceitou ser o analista do garoto, mas sem nenhum tipo de supervisão. Contudo, foi no grupo kleiniano que ele e sua esposa se agregaram, sendo fortemente influenciados por Klein.
Em sua obra Da psiquiatria à psicanálise, publicada em 1958, apresentou o conjunto de suas posições teóricas. Ao contrário de Melanie Klein, interessava-se menos pelos fenômenos de estruturação interna da subjetividade do que pela dependência do sujeito em relação ao ambiente. 
Não aceitava a explicação freudiana da agressividade como decorrente da pulsão de morte e definia a psicose como um fracasso da relação materna. Segundo ele, era o “bom funcionamento” do laço com a mãe que permitia à criança organizar o seu eu de maneira sadia e estável.
O tema da brincadeira já fora abordado por Freud, que afirmou que, ao brincar, a criança tem prazer na aparente onipotência que adquire ao manipular os objetos cotidianos, associando-os a símbolos imaginários, como no jogo do fort-da (uma espécie de esconde esconde), que evocava a rememoração da presença e da ausência da mãe.
 Não há dúvidas, porém, de que foi Melanie Klein quem efetivamente trouxe a brincadeira para o trabalho com crianças. Ela reconhecera um paralelismo entre a atividade lúdica infantil e o sonho do adulto, e entre as verbalizações da criança ao brincar com a associação livre clássica. 
Discípulo de Klein, Winnicott redimensionou a brincadeira, situando o brincar como fundamental para o trabalho com crianças, reconhecendo o valor que essa atividade possuía em si, instituída como atividade insubstituível do mundo infantil, mas que também fazia parte do mundo adulto. 
Para ele, “brincar é algo além de imaginar e desejar; brincar é o fazer”.
A criança como parte de uma relação
Foi a partir do trabalho durante a Segunda Guerra com crianças refugiadas, muitas delas privadas da presença materna, que Winnicott desenvolveu um conjunto de novas intervenções clínicas e teóricas. Em sua opinião, a dependência psíquica e biológica da criança em relação à mãe tem uma importância considerável. 
Daí o célebre aforismo de 1964: “O bebê não existe”. Para ele, o lactente nunca existe por si só, mas sempre e essencialmente como parte integrante de uma relação. 
Se a mãe estiver incapaz, ausente ou, pelo contrário, demasiadamente intrusiva, a criança desenvolverá depressão ou condutas antissociais, como o roubo ou a mentira, que são maneiras de reencontrar, inconscientemente, uma “mãe suficientemente boa”.
A partir de 1945, a obra winnicottiana tomou importância no mundo anglófono, na medida em que as mulheres foram estimuladas a voltar ao lar, depois do esforço de guerra, e em que os homens retornaram à vida civil. 
Winnicott tornou-se uma figura popular em seu próprio país, depois de fazer, entre 1939 e 1962, cerca de 50 conferências radiofônicas na BBC, quase todas dirigidas aos pais.
Ele tinha uma verdadeira paixão pela infância, como mostra o relatório do tratamento da “pequena Piggle”, publicado depois da sua morte.
 A menina tinha dois anos quando foi paciente de Winnicott. Ele a viu durante três anos, a pedido, e fez com ela dezesseis sessões memoráveis. 
Sua técnica psicanalítica sempre esteve em contradição com os padrões da IPA (Internacional Psychoanalytical Association). 
Winnicott não respeitava nem a neutralidade nem a duração das sessões, e não hesitava em manter relações de amizade calorosa com seus pacientes, reencontrando sempre a criança neles e em si mesmo. Via na transferência uma réplica do laço materno. 
Assim, oferecia a seus analisados um “ambiente” especial. 
Às vezes, tomava-os nos braços e prolongava a sessão durante três horas. Dedicou a sua última obra, O brincar e a realidade, aos seus pacientes, que “pagaram para me ensinar”.
 Morreu subitamente de problemas cardíacos em 1971. Ele dizia: “Quero estar vivo na hora da minha morte” – e seu desejo, de fato, se realizou, pois, embora padecesse de problemas cardíacos há várias décadas, a morte o surpreendeu enquanto ele exercia todas as suas atividades rotineiras.
Pontos fundamentais da sua obra:
A mãe suficientemente boa e o ambiente
Para Winnicott, cada ser humano traz um potencial inato para amadurecer, para se integrar; porém, o fato de essa tendência ser inata não garante que ela realmente vá ocorrer. Isso dependerá de um ambiente facilitador que forneça os cuidados de que precisa. 
No início da vida, esse ambiente é representado pela mãe suficientemente boa. É importante ressaltar que esses cuidados dependem da necessidade de cada criança, pois cada ser humano responderá ao ambiente de forma própria, apresentando, a cada momento, condições, potencialidades e dificuldades particulares.
A mãe suficientemente boa não é necessariamente a própria mãe do bebê, mas quem efetua uma adaptação ativa às necessidades dele. Possíveis dificuldades da mãe em olhar para o filho como diferente dela, com capacidade de alcançar certa autonomia, podem tornar o ambiente desfavorável para aquela criança amadurecer. 
Não basta, apenas, que a mãe olhe para seu filho com o intuito de realizar atividades mecânicas e práticas (por exemplo, alimentação e higiene) que supram as necessidades dele; é necessário que ela perceba como fazer para satisfazê-lo em suas necessidades emocionais e possa reconhecê-lo em suas particularidades.

O holding
A capacidade da mãe de identificar-se com seu filho permite satisfazer a função sintetizada por Winnicott na expressão holding. 
Ela é a base para o que gradativamente se transforma em um ser que experimenta a si mesmo. 
A função do holding é fornecer apoio egoico, em particular na fase de dependência absoluta antes do aparecimento da integração do ego. 
O holding inclui principalmente o segurar fisicamente o bebê, que é uma forma de amar; contudo, também se amplia a ponto de incluir o ambiente e o conceito de “viver com”, isto é, de proporcionar ao bebê vivências como uma pessoa separada, que se relaciona com outras pessoas separadas dele.
A mãe, ao tocar seu bebê, manipulá-lo, aconchegá-lo, falar com ele, e, principalmente ao olhá-lo, se oferece como espelho no qual o bebê pode se ver.
O holding é necessário desde a dependência absoluta até a autonomia do bebê. Resumidamente, o holding são as ações que protegem da agressão fisiológica, levam em conta a sensibilidade cutânea do lactente – tato, temperatura, sensibilidade auditiva, sensibilidade visual, sensibilidade à queda (ação da gravidade) e defendem o bebê da falta de conhecimento da existência de qualquer coisa que não seja ele mesmo. Inclui a rotina completa do cuidado dia e noite, que não pode ser o mesmo para dois lactentes, que nunca são iguais.

O objeto transicional
No curso “normal” da vida, o bebê naturalmente passará da “dependência absoluta” para a “dependência relativa”, o que é essencial para seu amadurecimento.
O amadurecimento exige que, vagarosamente, algo do mundo externo se misture à área de onipotência do bebê. Ser capaz de adotar um objeto transicional (um brinquedo, um paninho, qualquer objeto em particular de que a criança goste) já anuncia que esse processo está em curso. O bebê está passando para a dependência relativa.
No início da passagem da dependência absoluta para a dependência relativa, os objetos transicionais exercem a indispensável função de amparo, por substituírem a mãe que se desadapta e desilude o bebê.
Na progressão da dependência absoluta até a relativa, Winnicott definiu três realizações principais: integração, personificação e início das relações objetivas.
O bebê vai desenvolvendo meios para poder prescindir do cuidado maternal, por meio da acumulação de memórias de maternagem, da projeção de necessidades pessoais e da introjeção dos detalhes do cuidado maternal, com o desenvolvimento da confiança no ambiente.
É importante ressaltar que, segundo Winnicott, a independência nunca é absoluta. 
O indivíduo sadio não se torna isolado, mas se relaciona com o ambiente de tal modo que ambos se tornam interdependentes.
Afirmava que a manipulação de uma parceria psicossomática na criança é que contribuía  para a formação do sentimento do "real" por imposição ao "irreal".
Dizia que a pele é uma estrutura de importância obvia para o processo de localização da psique exatamente no e dentro do corpo. Impreensidivel o toque para o desenvolvimento, a massagem é referencia. A pele é o maior órgão do corpo e um dos principais meios de transmissão de estímulos sensoriais do bebé. Como seres humanos não conseguimos sobreviver sem o contato humano, estudos revelam que o contato pele com pele é tão ou mais importante do que a alimentação. 
Este contato proporciona ao bebé imensos benefícios, já comprovados através de estudos e investigações. Este conjunto de técnicas simples traz benefícios não só bebé mas aos pais, família alargada e sociedade em geral.

Anni Loth Nielsen (1989) assinala que o toque é a primeira linguagem do bebê, daí a importância da massagem como veiculo de linguagem corporal.

Inge Flehmig (2004) para este autor, cada criança é um indivíduo com padrão, ritmo de desenvolvimento e habilidades ligeiramente diferentes, pode-se considerar as seguintes aquisições da criança em desenvolvimento: Durante o primeiro mês de vida a postura do recém-nascido é a flexão fisiológica, predominando a assimetria. 
Em decúbito dorsal ele é capaz de virar a cabeça para ambas ás direções. 
Em decúbito ventral, é capaz de estender os membros inferiores reciprocamente e de virar a cabeça para liberar as vias aéreas nessa posição. 
A cabeça do recém-nascido cai completamente para trás quando é puxado para a posição sentada. Quando segurado pelas axilas, apóia-se mantendo-se por alguns segundos sem fixação adequada e depois cai fletindo os joelhos.
Alguns reflexos e reações estão presentes desde o primeiro mês de vida, como o Reflexo de Sucção e Deglutição, Quatro pontos cardeais, Olhos de boneca, Fuga à asfixia (até o resto da vida), Glabelar, Magnético, Colocação palmar, Colocação plantar, Tônico cervical simétrico (RTCS), Preensão palmar, Preensão plantar, Tônico cervical assimétrico (RTCA), Tônico labiríntico, Galant, Moro, Positivo de apoio, Cutâneo plantar em extensão, Marcha automática e a Reação de endireitamento da cabeça.
Em decúbito dorsal, a criança ainda apresenta predomínio de flexão no segundo mês, porém apresenta simetria.
 Na posição ventral é capaz de estender o segmento torácico. 
A cabeça levanta-se por curtos intervalos, ainda ligeiramente oscilando, mas não além dos 45º. Quando puxada para sentar, a cabeça ainda oscila, mas ela orienta-se para a posição ereta mais estável. 
Segurada pelas axilas, a criança ergue-se por alguns segundos de maneira mais estável e abandona a posição mais suavemente, fletindo os joelhos.
Os reflexos têm menor intensidade, mas se produzem bem equilateralmente. São eles: Sucção e deglutição, Quatro Pontos Cardeais, Glabelar, Marcha Automática, Magnético, Colocação Plantar, Colocação Palmar, Galant, RTCA, RTCS, Tônico Labiríntico, Preensão Plantar, Preensão Palmar, Positivo de Apoio, Cutâneo Plantar em Extensão, Moro e a Reação de Endireitamento da Cabeça.
Ao entrar no terceiro mês a criança pode virar-se para os dois lados, não mais em bloco, mas com certa rotação. A cabeça pode ser mantida na linha média, mas se coloca freqüentemente, para um dos lados. 
As mãos podem ser trazidas para a linha média, e segurar objetos, levando-os à boca.
 Na posição ventral, ergue a cabeça a 45º e o apoio sobre os antebraços ainda não é estável.
 A criança já colabora quando se quer levantá-la da posição dorsal. A cabeça acompanha bem, mas ainda oscila um pouco. Segurado pelas axílas, permanece mais estável na posição em pé. 
O tônus flexor já não predomina e o padrão extensor é o predominante . 
A criança com três meses de vida apresenta reflexos e reações como o RTCA, Tônico Labiríntico, Preensão Plantar, Preensão Palmar, Cutâneo plantar em extensão, Moro e Reações de endireitamento da Cabeça, Postural labiríntica, Óptica de retificação e Retificação do corpo sobre a cabeça.
O RTCA, Tônico labiríntico, Preensão plantar, Preensão palmar, Cutâneo plantar em extensão e Moro ainda estão presentes no quarto mês, acrescido do Landau . 
Devido ao melhor contato com o ambiente, a criança mostra-se mentalmente mais adiantada do que lhe permite a motricidade.
 A criança tem, além das fases da satisfação de necessidades alimentares, o desejo de contatos com o ambiente e se não os consegue, chora . Com cinco meses, a criança quando colocada em decúbito dorsal pode virar-se de um lado para o outro e, às vezes, atingir o decúbito ventral. Consegue alcançar a boca com os pés. Em decúbito ventral, a cabeça ergue-se bem até 90º e faz o deslocamento de peso para um dos lados, a fim de liberar um dos braços. 
Apresenta estabilidade incipiente do tronco. Quando erguido pelas axilas, há maior flexibilidade no joelho . Reflexos e reações encontrados no quinto mês: Preensão plantar, Cutâneo plantar em extensão, Landau e inicia-se a Reação de equilíbrio.
No sexto mês, em sedestação a criança pode manter a postura sem apoio das mãos por curtos períodos. Ela joga-se, então, para adiante, tendo um controle de peso insuficiente. Quando colocada em pé, apresenta boa simetria da postura, mas não se mantém independentemente. 
Algumas palavras como mamãe e papai já são pronunciadas pela criança.
No sexto mês de vida os seguintes reflexos e reações encontram-se presentes: Preensão plantar, Cutâneo plantar em extensão (pode se extinguir nesse mês, mas em algumas perdura até 1 ano de idade), Landau e Reações de retificação da cabeça sobre o corpo, 
Endireitamento do corpo sobre o corpo, Postural de fixação e de Proteção .
 Ao sétimo mês de vida a criança não permanece mais em decúbito dorsal, virando-se para um dos lados. Em decúbito ventral, às vezes tenta ficar de gato. Sentada, apresenta bom equilíbrio quando se inclina para frente. Quando segurada pelas axilas, tenta equilibrar-se, mas oscila. 
A criança agarra objetos e tenta estabilizar-se neste sentido. 
Objetos menores e maiores são agarrados, quase sempre com a palma da mão. Os músculos oculares estão coordenados, apresenta boa coordenação olho-mão, já acompanha em todos os planos . 
Neste momento o único reflexo presente é o Landau . 
No oitavo mês, na posição ventral a criança pode passar para a posição de gato fletindo-se. Sentada, apóia-se com boa rotação para adiante e lateralmente.
 Consegue ficar em pé com apoio. Neste período a criança torna-se muito mais estável e chega à posição ereta embora ainda sem segurança. Movimentos continuados, modificações na posição e tentativas constantes de alcançar alguma coisa no espaço determinam o desenvolvimento.
 Quando a criança senta-se estavelmente reagindo ao desequilíbrio contra o movimento do corpo, em torno do nono mês de vida, dificilmente se mantém em posição dorsal ou ventral. Fica em pé com maior estabilidade e, quando segurada, apresenta bom equilíbrio. Sentada ou em pé apóia-se sobre os quatro membros, locomovendo-se com maior rapidez. 
Nessa idade, o brinquedo bem agarrado já pode ser atirado. Pega objetos pequenos com o polegar e o indicador (pinça) .
 No décimo mês a criança atinge o sentar sem apoio independentemente, com bastante equilíbrio. Também fica em pé sozinha segurando em objetos. Passa da posição em pé para sentada e sentada para em pé. Esta idade é o estágio intermediário da horizontal para a vertical ainda instável. 
Os estágios intermediários melhoram. A criança fica em pé e tenta largar-se. 
Anda ao longo dos móveis, engatinha. Por isso, já não se pode deixá-la só .
Segundo Flehmig (2004) no décimo primeiro mês a criança amadurece todas as aquisições se preparando para as novas aquisições. 
Com um ano de vida a criança atinge o sentar sem apoio independentemente, com equilíbrio e assume a bipedestação sozinha segurando em objetos. Começam a dar os primeiros passos, mas ainda preferem engatinhar pois é uma locomação mais rápida.
Um mês depois, o engatinhar já não é o recurso mais utilizado para se locomover.
 A criança pode deslocar seu peso e adaptar-se bem à modificação da sua posição no espaço. 
Pode caminhar livremente. Têm boa compreensão do que lhe dizem e consegue expressar-se dizendo, por exemplo, papá (comer), au-au (cão).
 É no décimo oitavo mês que a criança mostra equilíbrio adequado às posições. Bom controle de cabeça e tronco, boa rotação, boa flexão de quadril na posição sentada, boa extensão de quadril em pé e boa mobilidade das articulações. 
Consegue segurar um objeto e transportá-lo. Arruma os objetos, tenta colocá-los em ordem, desarruma, apalpa, distingue materiais e superfícies. Melhora de forma constante a sua integração perceptiva, acompanhada pelo desenvolvimento da fala. A evolução motora está realizada, de modo que a criança pode experimentar amplas dimensões evolutivas.
Para Flehming o recém nascido e a criança que se desenvolve requer contato corporal mãe e com as  pessoas que a rodeiam.
É alerta para o fato de que se essa necessidade não  for satisfeita, sobrevêm pertubações que se manifestam mais tarde, em alguns casos, sob a forma de distúrbios do comportamento ou cognitivos, crianças que não tiveram o toque  ou desenvolveram sensações negativas no plano da pele eram filhos de mães que não apreciavam o contato com a pele, assim acabava se produzindo uma privação bilateral com prejuízos para interação mãe e filho.

Referências
KELEMAN, Stanley ([1975] 1996). O corpo diz a sua mente, São Paulo, Summus
KELEMAN, Stanley([1979]1994). Realidade Somática, São Paulo, Summus
KELEMAN, S. Mito e corpo: Uma conversa com Joseph Campbell. São Paulo: Summus, 2001.
COSTALLAT, Dalila M.M. de. Exercícios psicomotores básicos de Educação Tônica para a otimização da aprendizagem formal da escrita. In: A psicomotricidade otimizando as relações humanas. São Paulo: Arte & Ciência, 2002. 2.ed. O.N.P. Oedem Nacional dos Psicomotricistas.
FONSECA, Vitor da. Aprender a Aprender: A Educabilidade Cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 1998.
FONSECA. Desenvolvimento Psicomotor e Aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2008.
http://www.revistaeducacao.com.br/donald-winnicott-e-interacao-entre-o-bebe-e-seu-meio-ambiente/
FLEHMIG, I. Reflexos e reações. Texto e atlas do desenvolvimento normal e seus desvios no lactente. São Paulo: Atheneu, 2004, v. 1. p. 13-304.

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