Aprendizagem e Não Aprendizagem

Errar e Aprender

O erro para o psicopedagogo é diagnóstico, não é o problema.

Indagamos o que erro de aprendizagem? Partimos do pressuposto que é o que está fora do que é considerado correto, o que está aquém do padrão.
Historicamente o erro remete ao feio, ao incorreto, ao desastrado, ao  não esperado.
Considerando o processo aprendizagem quando pensamos em erro lembramos fracasso, dificuldades, percalços.

As escolas detectam casos de alunos com dificuldades de aprendizagem ou com não aprendizagem.
São alunos que possuem padrões de desenvolvimento diferente do esperado, aquém do que se espera, apresentam um ritmo diferente dos colegas de classe, apresentam um raciocínio lógico matemático lento, dificuldades de leitura, escrita, o que gera difícil entrosamento com os colegas, às vezes discriminado pelos colegas o que pode gerar comportamento agressivo, timidez, falta de interesse, falta de concentração nas atividades propostas pelos professores, alguns apresentam dificuldades de aceitar limites, regras, em concentrar-se ou mesmo em memorizar, relatar sequencias e fatos.

Como Psicopedagoga busco ler, embasar-me teoricamente e neste processo diversos pesquisadores, e autores como Almeida, Castorina, Fernandez, Pain, Patto, Scoz, Piaget, Vigostky, Weiss auxiliam sobre as intervenções de ação psicopedagógicas.

Para tratarmos do erro primeiro devemos pensar e entender sobre aprendizagem. O que é aprendizagem?

Segundo Oliveira(1993), a própria noção de 'aprendizagem" significa processo de ensino - aprendizagem, justamente para incluir quem aprende, quem ensina e a relação; social entre eles, de modo coerente com a perspectiva sócio-histórico.

Almeida (1993) diz que para a aprendizagem acontecer é necessário o " vínculo" com a outra pessoa, no caso a pessoa que ensina, para Sandra  Almeida é nos campos das relações entre o professor e o aluno que se criam condições para a aprendizagem, seja quais forem os objetos de conhecimento estudados ou trabalhados.

Castorina (1993)  fala que a aprendizagem consiste na internalização progressiva dos instrumentos mediadores... todo o processo psicológico superior vai do âmbito externo para o interno, das interações sociais para as ações internas psicológicas.

Fernandez (2008) , a aprendizagem não é um meio para se obter outra coisa. É um fim em si mesmo. O ser humano nasce carente e se torna humano graças à aprendizagem, nascemos imaturos biologicamente, precisamos do outro para sobreviver, precisa do outro que o ensine, que o reconheça como semelhante, que queira e que acredite que pode aprender. Todo o  aprender para Alícia é problemático, porque no mínimo inclui, três sujeitos: "o aprendente", "o ensinante" e o "sujeito social", que é a sociedade em que se insere. Para ela a família é de suma importância para a aprendizagem da criança, pois os pais são os primeiros ensinantes.

Pain (1992), para Sara Pain, o processo de aprendizagem se inscreve na dinâmica da transmissão da cultura, que constitui a definição mais ampla da palavra educação.  A aprendizagem é um processo integrado que provoca a transformação qualitativa na estrutura do sujeito que aprende. O bebê à medida que exerce sua atividade sobre o mundo, pode construir apesar das transformações objetos permanente, entidades diferentes dele e idênticas a si mesmas;
Pain  propõe a existência de condições externas e internas para que a aprendizagem ocorra. as externas são os estímulos, e as internas dizem respeito ao corpo, como infra-estrutura neurofisiológica e base do eu; ás estruturas cognitivas, capazes de organizar os estímulos do conhecimento e à dinâmica do comportamento, a qual reflete a relação do eu/ego com a realidade externa.

Patto (1997), Em meados dos anos 80, Maria Helena Souza Patto, juntamente com pesquisadores antropológicos e uma vertente crítica da Psicologia Escolar, começa a desmistificar este conceito de definir a condição de carência como fator primordial para a não aprendizagem.
 Este contesto confronta a  educação brasileira, sobre privação, deficiência, baixa aprendizagem em crianças de famílias menos favorecidas economicamente, que até meados desta década eram apontadas como principais causas do fracasso escolar. Patto, aponta que atitudes ideologicas e mitificadoras culpavam alunos pobres e suas famílias pelo fracasso escolar, isentando o sistema público de suas responsabilidades neste contexto.
De acordo com Patto (1997), a psicologia afirma, através da teoria da carência cultural, que "[...] o ambiente familiar na pobreza é deficiente de estímulos sensoriais, de interações verbais, de contatos afetivos entre pais e filhos, de interesse de adultos pelo destino das crianças, num visível desconhecimento da complexidade e das nuances da vida que se desenrola nas casas de bairros mais pobres" (p.285)
A visão retratada é excludente, preconceituosa e desconectada à realidade, uma vez que sabemos que a falta de envolvimento acontece em qualquer classe social e que famílias economicamente bem ou estáveis, muitas vezes negligenciam a interação com os filhos.

Piaget criou um campo de investigação que denominou epistemologia genética, a teoria do conhecimento, que centra-se no desenvolvimento natural da criança. Para Jean Piaget, o pensamento da criança desenvolve-se a partir de  quatro estágios: Inteligência Sensório-Motora - até os 02 anos de idade; Inteligência Simbólica ou Pré-Operatória - dos  02 aos 7 / 8 anos , Inteligência Operatória Concreta- dos  7 / 8 anos aos 11/12 anos e Inteligência Operatória Formal - a partir dos 12 anos.
cada estágio se caracteriza pelo surgimento de estruturas originais que diferem das estruturas já aprendidas e ampliam-se com as novas experiências.
Piaget muito contribuiu para o estudo lógico-matemático,que desenvolve-se segundo este autor dependendo da estrutura de conhecimento da criança. Para ele o aprender é construído pelo aluno, aprender depende da provocação da atividade.

Vigostky buscou compreender a origem e o desenvolvimento dos processos psicológicos no sujeito, realizou a abordagem genética, baseando-se no desenvolvimento do homem através de sua cultura, do seu meio social, seu convívio com o outro, do ambiente onde interage. Vigostky  propõe uma reflexão sobre a criança, que para ele de forma inata( corpo , alimentação, digestão) já nasce com o sujeito e  os processos de maturação do organismo que independente das informações do ambiente desenvolve-se. Ele enfatiza os processos sócio-históricos, a ideia de aprendizado inclui a interdependência dos indivíduos envolvidos no processo, portanto envolve quem aprende, quem ensina e as relações entre os pares.
Busca ver onde a criança, ou sujeito chegou em relação a seu desenvolvimento.
Nesta forma de avaliação demonstra o que o sujeito já aprendeu e uma vez aprendido está conquistado este conhecimento, não será necessário reforçá-lo porque a criança já sabe. Esta etapa Vigotsky denominou de  nível de desenvolvimento que foi consolidado e completo.Vem então o nível de desenvolvimento potencial é onde acontece o processo de interação com  o outro, onde aprende com o outro que já está capacitado nesta ação ou conteúdo, onde com a ajuda de quem já sabe o sujeito é capaz de realizar qualquer tarefa. Neste contexto, o que a criança já conhece é chamado real e o que está aprendendo é chamado de ideal - Entre o Real e o Ideal, encontra-se o espaço de aprendizagem onde a criança no momento situa-se a este espaço Vigotsky denominou de zona de desenvolvimento proximal.

Scoz, para Beatriz scoz, o ato de aprender e de ensinar somente podem ser compreendidos, quando consideramos que os dois são unidos e indissociáveis, por que são constituintes e constituídos pelo processo que é inerente ao ser humano, nascemos e desde este momento interagimos com familiares e formamos as primeiras referências do que é ensino e aprendizagem.
Para aprender é necessário relacionamento com o ensinar e o aprender, num momento somos aprendentes em outro ensinantes.
Os processos de aprendizagem para Scoz são indissociáveis porque internalizamos nossas vivencias, nas interações com os grupos a que pertencemos aprendemos.
Para Scoz a aprendizagem ocorre na relação entre a objetividade ( a realidade, o conhecimento, a lógica, o espaço, o tempo, o intelecto) e a subjetividade ( o simbólico, o desejo, as representações, os afetos).
Nos processos ensino e aprendizagem, o simbólico se transmite junto com o conhecimento científico e sistematizado, esta transmissão é chamada por esta autora de transmissões de novas formas de ser e de crer.
Para acontecer a aprendizagem é necessário o entrelaçar entre a objetividade e a subjetividade nos processos de ensinar e aprender, é a compreensão entre a integração entre a construção do conhecimento por parte do sujeito, o sujeito epistêmico e a constituição do sujeito pelo conhecimento, seu desejo de aprender, o vínculo com o ensinante, sua história e particularidades.
Para ocorrer aprendizagem faz-se necessário: corpo, organismo, estrutura cognitiva, estrutura dramática e estrutura simbólica.

Weiss - Para esta autora aprendizagem e conhecimento se constroem, são processuais, porém naturais e espontâneos no ser humano. Desde que nasce a criança, cresce e aprende a partir do olhar do outro.
Na escola a aprendizagem, também acontece de um processo natural, resultante de complexas atividades mentais, onde pensamento, percepção, memória,  motricidade, movimentos interagem, envolvem a criança e despertam o desejo de aprender.
Para ela, a aprendizagem acontece de forma normal, onde o "aprendente", pensa, sente, age e fala. Quando começam aparecer "dissociações de campo" e o sujeito não tem danos orgânicos, evidencia-se que algo não vai bem, em suas relações, no seu meio, no seu mundo.
Raramente as dificuldade de aprendizagem tem raízes apenas cognitivas, geralmente são emocionais, cabe ao psicopedagogo realizar um diagnostico, a partir da queixa, com os pais, escolas, pares da criança para ir realizando a anamnese que subsidiará o entendimento do porque da dificuldade.

Visca - Renomado psicopedagogo argentino, criador da Epistemologia Convergente, linha de trabalho que propõe  um trabalho clínico integrando três linhas da Psicologia: Psicogenética de Piaget, Escola Psicanalítica de Freud e a Psicologia Social de Enrique Pichon Rivièri. Neste  processo propõe diagnóstico, tratamento corretor e prevenção.
Conforme cita (Chardelli, 2001), para Visca a aprendizagem é ser feliz,... eu acho que aprendizagem, para uma pessoa, abre o caminho da vida, do mundo, das possibilidades de ser feliz.
Visca diz que para aprender são necessárias as estruturas: cognitivas, afetivas e sociais.
Inteligência vai sendo construída a partir das interações do sujeito e as circunstancias do meio social.

Como dizia o poeta: Viver... viver e aprendendo a viver.... 

Referências:

CASTORINA, José Antonio et ALI - Piaget, Vigotsky. Novas Contribuições Para o Debate. São Paulo: Atica,  1990.
OLIVEIRA, Martha Khol de. Vygotsky. São Paulo: Scipione, 1993.
FERNANDEZ, in : http://www.direcionaleducador.com.br/artigos/entrevista-alicia-fernandez
PAIN,Sara.Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
PIAGET, J.Psicologia da Inteligência. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.
VYGOTSKY,Lev Semenovich. O desenvolvimento psicológico na infância. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
VISCA, Jorge. Técnicas Proyetivas Psicopedagógicas. Buenos Aires - A.G. Servicios Graficos - 1995.
WEISS, Maria Lucia Lemme. Psicopedagogia clínica: uma visão dos problemas de aprendizagem escolar. Rio de Janeiro, DP&A. 2003.
CHARDELLI, Rita de Cássia Rocha Soares - http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=239

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